sábado, 3 de outubro de 2009

Suco de Amora

Notinha pré conto: [Leia ouvindo Wonderful - Lady GaGa]

Passaram-se 7 anos. Sete anos de cartas intermináveis, cartões postais, Carla Bruni cantando em nossos ouvidos, e uma distância exata de 9162 km. Todas aquelas frases em francês: reclamações, elogios, declarações de amor, Je suis l'iris tu es la pupille, Je suis l'épice toi la papille, e sempre a frase: "Meu bem, é para você aprender a falar e ficar aqui comigo".

Não queria. Queria os velhos tempos, de subir aquela montanhazinha toda gramada em frente a sua casa, rir, correr um atrás do outro, aqueles abraços, deitar e imaginar como seria daqui a 10 anos, criando imagens com nuvens, e sempre ignorar o chamado da mãe desesperada querendo que ela volte para casa. Não foi só a infância assim, também a adolescência, toda aquela descoberta hormonal que pressionava os corações. Primeiro namorado, primeiro homem, primeiro amor. Acordavam um na casa do outro, e era o dia inteiro assim, desde que se entendiam por gente. Se é que entendiam. Chegou no ponto que o mundo era os dois, e um vivia em função do outro.

Ela fazia torta alemã - a preferida dele - ambos no ápice da juventude, 17 anos. A expressão dele não era a das melhores... quando chegou a casa dela, disse que precisava conversar, mas ela queria terminar a torta. Ele a abraçou forte, deixando cair todo o chocolate que estava na mão dela, e no meio de tantas lagrimas ela, se desesperou. Até que ele resolveu falar o que acontecia. França, avó, somente um ano, eu te amo, não, vai passar rápido, curso, prometo, somente você.

E todos os seus planos acabaram. Ela queria ir junto, mas acabara de entrar na faculdade, não podia largar, e ir para um país onde ela não conhece a lingua, e viver com qual dinheiro? Como? Não conseguia aceitar a ideia. Mas até o dia da viagem, os dois se tornaram um só com tantas promessas, que até eles mesmos se esqueceram de todas. Mas ele teve que ir. Resolveu ir sem avisar. E foi.

A vida dela se tornou chata. Olhava pro monte de grama e queria sair dali. Foi morar em um apartamento, sozinha, sim sozinha. Só conseguia olhar paraa geladeira com aquele amontoado de fotos dele, deles, cartões, toda uma vida ali, na porta da geladeira. O suco de amora a completava, e somente isso a fazia viver, alem das ligações diárias dele, que trabalhava, e dizia sempre juntar dinheiro para voltar. Ela sabia que ele não voltaria.

Um belo dia, belo dia. Um sol nascia e a praia de Copacabana estava especialmente bonita. Ela corria, a praia inteira, ia e voltava. Passou no mercado, comprou seu suco de amora e seguiu para casa.

Telefone tocava inssesantemente. Gritava pela casa 'já vou', numa forma de que assim provavelmente iriam esperar. Não iam. Alô. Não acredito, metrô, como?, empurrado, cremado, corpo, rio, viagem, 10 dias, só meu nome, ok.

Levou 7 anos para ver seu amado again, que daqui a 10 dias estava chegando dentro de uma caixa 30 x 10 x 13. Abriu a geladeira, tomou o suco direto da caixa, e foi para a janela.


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Braille

Eu tentei, mas não deu pra evitar, dessa vez veio em inglês. A inspiração veio quando eu estava ouvindo Braille da Regina Spekor (ótima música/cantora by the way). Rápida explicação: são as últimas divagações de uma pessoa velha e fatigada com a vida. Hope you like it.

I love being close to die
It makes you feel more alive
I remember my youth
When I was risky and adventurous

Now I'm lying on the grass
My bones are made of glass
Shaking like an old man
underneath the sky I've owned

What about you
I don't regret being myself
What about the things you do,
will you have something to tell?

Counting scratches on the wall
Counting scratches on the floor
Counting scratches I adore
Daring myself remember the dreams of before

You may say, at this stage, it is a sin
But I'm trying to decypher what's written in Braille upon my skin
Can you feel the overcoming night, it's coming for me
It's written in here, it's written...

sábado, 5 de setembro de 2009

Amigos (?)

Escrevi isso no início desse ano e achei esses dias nas minhas coisas e resolvi postar. Creio que não tenha nada a ver com a proposta do blog mas tá aí.

A muito tempo, eu tinha uma grande amiga. Ela se chamava Felicidade. Eu adorava ela! Nos conhecemos quando eu ainda era um bebê e ela cresceu junto de mim, dividindo experiências e emoções. Até que um dia, comecei a ver a vida de um modo diferente, onde ela não tinha lugar. Tive várias discussões com a Felicidade e achei que era hora de nos separármos.
No meio dessa confusão conheci duas novas amigas: a melancolia e tristeza. Ah sim! Essas sim são grandes companheiras. Não me largam por nada e me entendem na maioria das vezes. Mas tem certas vezes que elas me atormentam demais e acabam comigo, me deixam abaixo do fundo do poço. Um verdadeiro inferno de mágoas e insignificância.
Tento fugir delas mas elas sempre sabem onde eu estou. Necessito de ajuda rápida ou posso ser sucumbido pelas trevas e assim ocorrer um desastre. Por favor, ajude!

domingo, 30 de agosto de 2009

oK, eu preciso pensar em alguma coisa. Ouvir a voz interior? Isso deve ser fácil. CRI-CRI-CRI. oK. PAREM o System of a Down. oK. oK? É, oK. oK? humm... Vamos procurar inspiração. Liga a TV. hum. DESLIGA a TV. Ler? Meus olhos estão ardendo, mas obrigado por sugerir. Alias, quem é você? Ah, sim! Alter-ego, me desculpe, é que já faz tanto tempo. Então... hum... Alter, posso te chamar de Alter, certo? Como vão as coisas? Não, não, não... Tem algo muito errado aqui. Walter, quer dizer, Alter, não me leve a mau, mas eu eu me sinto mal falando sozinho, sabe como é né? Não? Ah...
Então, né. Desenha um pentagrama. Apaga as luzes. Tenta acender velas. TENTA. Acende as luzes. Acende as velas. Apaga as luzes. Deita no centro do desnho e invoca os espíritos das Musas. Musas? hum.. Walt... Alter quer ouvir MUSE. NÃO! Alter não tem poder sobre este corpo! Alter quer ouvir MUSE. oK, mas só uma música. APOCALYPSE PLEASE. HOUSE OF RISING SUN. SING FOR ABSOLUTION. SUPERMASSIVE BLACKHOLE. STARLIGHT. YES PLEASE. DEAD STAR. SHOWBIZ.
Mas era o que mesmo que eu queria fazer? Ah já me esqueci! Alter diz que se eu esqueci é por que não era importante. humm... Será? Alter também não lembra. Ah sim, eu tinha que fazer uma redação até quarta, mas era sobre o que mesmo? Alter não lembra. Alter disse que eu devia trocar de nome, fazer plástica, me mudar para a Noruega para ser detetive meio-expediente e os outros meio ser dançarino transformista. Eu disse não. Alter me xingou de "bobo" e disse que eu nunca concordo com ele. Aff. Alter foi embora. TICK-TOCK. oK, eu preciso pensar em alguma coisa.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Como liguei diretamente o ódio ao amor.

Passo dias enumerando o que eu odeio. Odeio, odeio, odeio, odeio. Não sei porque, mas odeio. De Oasis a gente metida, de suor a funghi. Ando na rua e enumero o que odeio: sol, pessoas andando devagar, cadê o ônibus?, estou com fome, odeio sair. Entro na escola, e novamente vejo meu ódio nas coisas: professor chato, matéria chata, ter que ler cada texto, geometria plana, orações subordinadas, voz daquela mulher, posso ir no banheiro? não, intervalo?. E na volta, porque essa pessoa ouve essa musica tão alta? Ah buracos e balanços, não posso nem recostar minha cabeça para dormir nessa meia hora de viagem para casa. E em casa, há chocolate mas não posso comer, repolho, cenoura e brócolis descem pela minha garganta cantando e dançando, e eu parada esperando, sem respirar para ver se já desceu tudo. Estudar física! Oh não, recuperação amanhã! Tudo isso se resume em um verbo: Odiar. Odeio tudo que me obrigam a fazer, a comer, a estudar, a pensar! E grito por dentro tentando aliviar.

Mas não tem nada como tomar um belo suco de manga, sentar e perceber que seu filme favorito (Alfie, com Jude Law) está passando. Ir na cozinha, abrir a gaveta e pegar uma colher, e assim fechar a gaveta com o próprio corpo, assim de lado, dando uma "bundada" na gaveta. Passar horas no banheiro passando cremes, dançando para um espelho e cantando para um público inexistente. Escrever cartas para ninguém, tirar fotos para deletar, passar uma hora caminhando numa esteira de academia (bem, eu curto), ouvir aquela musica que está na sua mente, baixar outras, pensar no amor da sua vida, até chorar de felicidade vale. Começar com um rabisco e depois perceber que você desenhou alguém. Amo muito, ah, amo amo amo. Deitar no sofá e simplesmete ficar ali, pensando e pensando e achando que estou filosofando. Amo, é amor. Amor pela gelatina, pelas fotos, pela música, pelo desenho. Que magnífico, que lindo, que mágico.

_Filha, sua semana de prova não começa amanhã?
Ódio. Não posso fugir de ódiar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Eu acordei e estava chovendo. Eu acordei e estava frio. Olhei para o céu e estava cinza. Olhei para dentro de mim e ouvi uma canção. Mad World. Ela era triste, chuvosa e cinza. Falou em Mad World lembrou de que? Bom, eu lembro de Donnie Darko. Será que viagem no tempo existe? Eu queria voltar aos meus 7 anos de idade. Eu fico triste porque as crianças desperdiçam sua infância, porque EU desperdicei a minha. E agora a vida é um tédio mortal sempiterno, será que daqui pra frente melhora? Bem, isso só o Frank sabe.

Diálogo.

Obs:
Amigo 1: Ed
Amigo 2: Jonh

Dois amigos que não se viam a muito tempo, mais ou menos a uns 9 ou 10 anos se encontraram em uma lanchonete e começaram a conversar:
Amigo 1: hey Jonh!
Amigo 2: Ed! Quanto tempo cara!
A1: É mesmo, né. Não nos vemos desde quando hein?
A2: Hmm....desde o 2º grau, creio eu.
A1: Putz, muito tempo mesmo. Mas e aí, como vai a vida?
A2: Vai bem. Depois que eu me formei em medicina fui trabalhar no hospital central aqui da cidade. Estou a um bom tempo lá
A1: Ah que legal! E você se casou, tem filhos?
A2: Que nada. Estou e sempre estarei sozinho nesse mundo...fazer o que né. E o que você anda fazendo da vida?
A1: Nada. Não terminei minha faculdade pois minha esposa, namorada na época, engravidou. Aí larguei os estudos para trabalhar para sustentar nosso filho...vivo de bicos por aí...

Então, um silêncio toma conta do local durante um bom tempo. Cada um continua bebendo suas respectivas bebidas. Mas algo mudou naquela hora. Joh recebeu uma ligação com a notícia de que um de seus pacientes do hospital havia falecido. Já era o quinto naquele mês. Seu estado emocional se agravou ainda mais mas ele tentou não demonstrar isso e continuou a conversar com Ed:

A2: Ah cara, que pena. Mas quando puder, volte aos estudos!
A1: Sei não....fazer o que, sou um completo inútil mesmo. Não sirvo pra nada e ninguem. Nem sei porque ainda estou vivo.
A2: Não pense assim. Todos servimos para alguma coisa nessa vida.
A1: Discordo de você mas mudemos de assunto. Já viu essa nova onda que ta rolando por aí?
A2: Qual?
A1: Venda de Órgãos no mercado negro e tal.
A2: Ah sim. Dizem que pagam bem, dependedo do estado e do ógão.
A1: Um rim tá valendo uns R$10.00,00. Acho que venderia o meu pra ver se melhoro de vida.
A2: Se eu não dependesse totalmente do meu cérebro eu o venderia.
A1: Eu compraira o seu cérebro. Daria uns cem, dusentos reais no máximo por ele *falando em tom de ironia*
A2: O que?! Meu cérebro vale muito mais que isso! Tenho Doutorado e falo 4 idiomas diferentes!
A1: Blah blah, grandes merda..
A2: Quem é você para julgar meus conhecimentos e propor preços a meu cérebro? Você é um grande babaca, isso sim. Fez merda mais novo e agora arca com as consequências.
A1: Fiz mesmo e me revoltei agora. Pra que fui te encontrar, pqp. Quero mais é que voce vá pra merda, seu idiota! Não preciso de mais ninguém se metendo na minha vida não.

Ed sai revoltado da lanchonete. Jonh fica, termina de tomar seu suco de laranja, pega o seu carro e vai embora. Porém, com a cabeça cheia e confusa ao extremo depois da discussão, ele desvia a sua atenção do trânsito e sem querer ultrapassa um sinal vermelho e acaba se chocando fatalemnte contra um caminhão. Ed, ao sair da lanchonete, sai em busca de uma loja de ferragens. Ao encontrar uma, ele compra uns dois metros de corda e procura a árvore mais próxima. Sem motivos para continuar a viver, ele faz um laço em volta de seu pescoço, amarra a outra ponta da corda na árvore, sobe em um galho e pula de lá. E o barulho de seu pescoço quebrando ecoa pela rua vazia e sombria naquela tarde.