Passaram-se 7 anos. Sete anos de cartas intermináveis, cartões postais, Carla Bruni cantando em nossos ouvidos, e uma distância exata de 9162 km. Todas aquelas frases em francês: reclamações, elogios, declarações de amor, Je suis l'iris tu es la pupille, Je suis l'épice toi la papille, e sempre a frase: "Meu bem, é para você aprender a falar e ficar aqui comigo".
Não queria. Queria os velhos tempos, de subir aquela montanhazinha toda gramada em frente a sua casa, rir, correr um atrás do outro, aqueles abraços, deitar e imaginar como seria daqui a 10 anos, criando imagens com nuvens, e sempre ignorar o chamado da mãe desesperada querendo que ela volte para casa. Não foi só a infância assim, também a adolescência, toda aquela descoberta hormonal que pressionava os corações. Primeiro namorado, primeiro homem, primeiro amor. Acordavam um na casa do outro, e era o dia inteiro assim, desde que se entendiam por gente. Se é que entendiam. Chegou no ponto que o mundo era os dois, e um vivia em função do outro.
Ela fazia torta alemã - a preferida dele - ambos no ápice da juventude, 17 anos. A expressão dele não era a das melhores... quando chegou a casa dela, disse que precisava conversar, mas ela queria terminar a torta. Ele a abraçou forte, deixando cair todo o chocolate que estava na mão dela, e no meio de tantas lagrimas ela, se desesperou. Até que ele resolveu falar o que acontecia. França, avó, somente um ano, eu te amo, não, vai passar rápido, curso, prometo, somente você.
E todos os seus planos acabaram. Ela queria ir junto, mas acabara de entrar na faculdade, não podia largar, e ir para um país onde ela não conhece a lingua, e viver com qual dinheiro? Como? Não conseguia aceitar a ideia. Mas até o dia da viagem, os dois se tornaram um só com tantas promessas, que até eles mesmos se esqueceram de todas. Mas ele teve que ir. Resolveu ir sem avisar. E foi.
A vida dela se tornou chata. Olhava pro monte de grama e queria sair dali. Foi morar em um apartamento, sozinha, sim sozinha. Só conseguia olhar paraa geladeira com aquele amontoado de fotos dele, deles, cartões, toda uma vida ali, na porta da geladeira. O suco de amora a completava, e somente isso a fazia viver, alem das ligações diárias dele, que trabalhava, e dizia sempre juntar dinheiro para voltar. Ela sabia que ele não voltaria.
Um belo dia, belo dia. Um sol nascia e a praia de Copacabana estava especialmente bonita. Ela corria, a praia inteira, ia e voltava. Passou no mercado, comprou seu suco de amora e seguiu para casa.
Telefone tocava inssesantemente. Gritava pela casa 'já vou', numa forma de que assim provavelmente iriam esperar. Não iam. Alô. Não acredito, metrô, como?, empurrado, cremado, corpo, rio, viagem, 10 dias, só meu nome, ok.
Levou 7 anos para ver seu amado again, que daqui a 10 dias estava chegando dentro de uma caixa 30 x 10 x 13. Abriu a geladeira, tomou o suco direto da caixa, e foi para a janela.
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